LIVROS || Beautiful Boy


Nunca fui a maior fã de livros com a temática dos vícios. Em grande parte porque me impressiono muito facilmente e as ideias mais violentas destes livros permanecem na minha mente muito depois de ter terminado a leitura, quase como que uma assombração. São histórias sempre difíceis e duras de ler que me fazem manter à margem. No entanto, com Beautiful Boy, eu quis entrar nessa viagem.

A razão principal está na premissa do livro; ao contrário da maior parte deste tipo de relatos — feitos na 1ª pessoa ou em género de ficção, com narrador na 3ª pessoa —, Beautiful Boy é a história de como Nic se entrega ao vício, narrado pelo próprio pai. É um testemunho verídico de como um miúdo carismático, inteligente, cheio de projetos e sonhos se entrega às drogas numa queda vertiginosa aos olhos do seu progenitor. Eu achei esta perspetiva muito intrigante porque o mundo da droga não arruína apenas o utilizador. É muito interessante ver através do prisma de um pai que, ao início, não quer acreditar que o seu filho inteligente seria capaz de se entregar para uma decisão tão insensata. Em paralelo, David — pai do Nic — partilha também o seu próprio testemunho de como abordou as drogas com a idade do filho. O conflito entre relevar a experimentação de drogas leves ou encarar como um alerta; a ansiedade de tentar compreender se vai tarde demais para salvar o filho ou não; a própria transformação da dinâmica familiar, não só entre o pai e Nic mas também com os restantes membros da família. Todas estas abordagens são violentas mas extraordinariamente bem contadas.

É um livro muito triste e não me lembro da última vez que tinha chorado copiosamente enquanto lia. A angústia e o sofrimento do pai, a aflição perante os desaparecimentos de Nic, a desilusão, a transformação gerada pela droga que resulta em comportamentos que, sóbrio, seriam impensáveis. Todos estes relatos tornam Beautiful Boy numa leitura dura e angustiante. É impossível não sentirmos empatia por David e de dividirmos com ele cada emoção. A esperança e a escassez dela; a frustração e a vontade de não desistir de quem se ama; Este amor voraz e incondicional que só um pai ou uma mãe podem sentir e que é tão imenso que é capaz de tanto suportar e perdoar. Que é tão forte quanto as más decisões e exageros de Nic. 

A leitura foi lenta — embora a narrativa seja bastante fluida e acessível — e com horário escolhido a dedo para que todo o ambiente pesado não influenciasse o meu próprio dia e bem estar. No entanto, não me arrependo nem um segundo da leitura e de ter acompanhado esta luta, especialmente porque agregou mais conhecimento sobre todo o processo de um vício — que tendemos a achar que sabemos tudo e a ser muito preconceituosos e injustos — e também sobre dados científicos que desconhecia — mas que um pai desesperado é capaz de pesquisar e, mais tarde, partilhar num livro. Chega a ser quase arrepiante a forma subtil e insidiosa como as drogas se instalam no quotidiano de Nic; inicialmente, de forma inocente e quase inofensiva, crescendo e levando tudo à frente consigo, incluindo princípios e valores humanos básicos.

O livro já foi adaptado para o cinema com a prestação (improvável) de Steve Carell, que se despiu da comédia para interpretar este drama, e de Timothée Chamalet, a sensaçao de Hollywood dos últimos tempos. Pela curiosidade que tenho para observar Carell num registo mais sério e pela possível prestação brilhante, mas desafiante, de Timothée para personificar Nic, sou capaz de passar por esta viagem de novo, sabendo que de lá sairei com um nó na garganta e o coração desfeito. Mais uma vez. Recomendo a leitura se estiverem numa fase de vida menos atribulada.

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Bertrand

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