LIVROS || Vozes de Chernobyl


Tinha o Vozes de Chernobyl na minha reading list há imenso tempo, e assistir à série Chernobyl deu o empurrão certo para iniciar, finalmente, a leitura. Ainda com a memória fresca de alguns factos e acontecimentos, achei que era a altura indicada (até porque a série se baseou em alguns dos relatos do livro para reproduzir o acontecimento).

Vozes de Chernobyl é uma compilação de relatos das vítimas do acidente nuclear. Entre trabalhadores do reator, cientistas, pilotos, mineiros, integrantes do partido, médicos, soldados, refugiados, professores, fotógrafos e residentes, Svetlana Alexievich entrevistou um a um — necessitando, em alguns casos, da proteção do anonimato — e reuniu todos os relatos neste livro que não segue a linha de uma entrevista convencional e sim de testemunho. Não existe um formato de pergunta-resposta mas sim uma compilação de memórias, onde a jornalista deixou cada testemunha relatar tudo o que viu, sentiu ou fez durante o incidente, sem interrupções.

Vozes de Chernobyl não procura reunir explicações ou reconstruir cronologicamente o acontecimento e por isso mesmo recomendo que assistam à série antes de lerem o livro. A série procura replicar e explicar tudo o que se passou antes, durante e após o desastre. Vozes de Chernobyl foca-se inteiramente no que milhares de pessoas tiveram de viver; a desinformação, a ocultação dos factos, a angústia de terem de partir e abandonarem as suas casas e de deixarem as suas vidas para trás, os sacrifícios. Por existir um leque tão vasto de vítimas, os próprios relatos acabam por ser muito distintos e cada um decide focar-se numa parte de um acontecimento gigantesco, proporcionando-nos detalhes e incidentes secundários absolutamente fascinantes e aterradores.

O livro acaba por ser muito político também, no sentido em que espelha muito bem — talvez melhor, até, que a série — o poder político sobre as pessoas. A pressão do país para que muitos se sacrificassem, a ideologia política acima das leis da física e da ciência — que me transcende e que continuo a achar que nada mudaria, hoje em dia — a necessidade de manter uma fachada que custou a (qualidade de) vida a tantas pessoas. Chega a ser revoltante a desinformação e a pressão que tanta gente sofreu. 

Não é, de todo, uma leitura fácil. Os relatos são-nos apresentados sem paninhos quentes, tal como são, e nem sempre são memórias fáceis de ler ou digerir: o sofrimento e as decisões horrendas que tiveram de ser tomadas (algumas retratadas na série) marcaram-me e mexeram comigo de tal forma que tive de deixar de ler este livro à noite. Determinadas passagens são fortes demais mas necessárias. Para compreendermos o que realmente estas pessoas tiveram de passar, para entendermos o que é que acontece quando um desastre sem precedentes ocorre, para ganharmos uma perceção real do que é que a Humanidade é capaz de fazer — para o bem e para o mal. É um livro real, cru e imprescindível. Embora custe a virar a página, senti que entregou tudo o que esperava dele. Queria testemunhos, memórias, pormenores e foi exatamente isso que recebi, sem recriações ou floreados. Svetlana limitou-se a transcrever exatamente as palavras de cada testemunha e, sinceramente, foi a sua melhor decisão. É um livro que todos temos de ler para que a História nunca mais se repita.

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3 comentários

  1. Curiosamente, ando com muita vontade de ler esta autora e este livro não é excepção!
    Gostei muito da tua opinião que aumentou ainda mais o meu interesse, em particular por este livro. Vai directo para a minha lista de desejos mais urgentes! ;)

    Não Digas Nada a Ninguém

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  2. Também li este recentemente (é objecto do meu post mais recente!), e gostei muito. Mas ainda não vi a série!

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  3. Estive agora a dar uma vista de olhos pelo meu goodreads e apercebi-me de que já tinha esta livro adicionado, há algum tempo... A catástrofe de chernobyl é um assunto que sempre me chamou à atenção, no entanto, nunca criei as condições para a explorar, tal como ela merece. Talvez agora, que tenho mais tempo livre nas mãos, me entregue à pesquisa, às séries e aos livros, de modo a amadurecer enquanto pessoa, através dos relatos daqueles que viram as suas vidas viradas do avesso! A ver como corre!

    LYNE, IMPERIUM BLOG

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