PASSAPORTE || Great Famine Memorial


Do alto do nosso privilégio, é um pouco insólito imaginar um mundo onde a maior causa de morte era a fome. Hoje em dia, morremos precisamente pela epidemia contrária mas, durante praticamente toda a História da Humanidade, a fome era um medo que perseguia as populações como uma sombra. O assunto sempre me sensibilizou. Não ter garantias de quando, como e o que vamos comer hoje e amanhã é um assunto arrepiante que nunca nenhum de nós viveu — pelo menos, não como eles viveram — e foi desta forma que eu admirei cada traço deste Memorial: grata por não saber sequer imaginar o que é passar fome.

Entre 1845 e 1849, a Europa foi assolada por uma onda de fome e doenças resultantes da contaminação, em larga escala, da batata, um alimento que estava na base diária da alimentação de toda a população, especialmente nas comunidades mais empobrecidas, que dependiam deste tubérculo para sobreviver. Aliado à situação política, económica e social precária do país — especialmente nas suas relações com o Reino Unido — a Irlanda tornou-se num dos países mais afectados por esta contaminação, sendo de tal forma um período negro que resultou em mortes e emigração em massa. A época denominou-se, assim, A Grande Fome.

É uma das principais razões por existir uma comunidade tão forte de Irlandeses nos Estados Unidos e no Canadá e, ainda hoje, é um período trágico abordado com muito respeito, sensibilidade e algum debate polémico, nomeadamente, a ajuda tardia e pobre por parte de Inglaterra. Os dados são emocionantes e catastróficos: um milhão de mortos; mais de um milhão de irlandeses que precisaram de fugir das suas casas à procura de um lugar, uma vida, um país melhor. Uma fatia generosa da população Irlandesa decrescida.

A fome, o abandono e a pobreza estão, infelizmente, muito enraizados na cultura Irlandesa, ao longo dos séculos. Porém, A Grande Fome foi um dos períodos mais negros da História. O país optou por o recordar para sempre na forma de um Memorial simples, mas muito cru, em Dublin, à beira-rio. O aspecto decadente e desesperado das esculturas representadas não passa despercebido, assim como o olhar sem a mínima esperança.

Confesso que não acompanho a série televisiva Victoria mas, há um ano, assisti a um episódio que se referia precisamente à Grande Fome da Irlanda e esta cena final, ainda hoje, me emociona. Acho que transmite na perfeição todo o contexto desta catástrofe. Também demonstra, como já a História tem vindo a provar, que com grandes atos de terror, vêm grandes atos de Humanidade. A música, um cover de uma canção tradicional irlandesa cuja letra é, precisamente, sobre A Grande Fome, está repleta de significado. Assistam, vale a pena.

1 comentário

  1. É daquelas coisas que não consigo mesmo imaginar como seja...só consigo pensar que será desesperante, não ter algo tão essencial e que tomamos por garantido. São estas coisas que nos fazem repensar a nossa sorte...

    Jiji

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