PASSAPORTE || Monte das Aranhas


Um fim de semana off. Era tudo o que precisávamos. De um pulinho, de um pequeno refúgio aqui perto mas suficientemente longe. Neste fim de semana, consultei zero e-mails, enviei um número de mensagens que posso contar pelos dedos de uma mão, consultei as redes sociais uma vez — e já no regresso. Conta? — e estivemos completamente desligados do mundo, das notícias e das tendências da atualidade. Mas mais ligados do que nunca ao que realmente importa.


Uma escapadinha ao Alentejo. É um destino que se aprende a gostar com a maturidade, não é? Se na infância e adolescência o lugar me fazia procurar desesperadamente pela palavra 'piscina' e me levava a suspirar pela ausência de dinâmica e pela lentidão que lhe é conhecida, hoje, sei que é o destino ideal para praticar o estreitamento de laços, a languidez de um momento de leitura à sombra, o desfrutar do dia sem planos. Aprendemos a apreciar o Alentejo porque nos identificamos com a sua necessidade de permanecer caloroso, pouco barulhento, sem excesso de estímulos e num ritmo aprazível.

O Monte das Aranhas — e se têm aracnofobia num grau severo, como eu, saibam que não vi nem uma, mas recomendo-vos que, se quiserem googlar, peçam a alguém que não tem medo para filtrar a pesquisa! — foi a nossa escolha para este pulinho, por várias razões que estou prestes a relatar — e vocês a ver!


Está no meio do nada e nunca esta descrição foi tão agradável. Ali entre o Vimieiro e Estremoz, com vista privilegiada para o castelo de Évora Monte — um detalhe especial que não me passou despercebido uma vez que o primeiro livro a sério que li foi Uma Aventura em Évora Monte e sempre guardei com carinho e curiosidade o castelo. Que coincidência bonita! —, rodeada de campos de perder de vista com oliveiras, sobreiros e uma vinha gigantesca. Uma guesthouse que nos recebeu aos dois e a apenas mais um casal com quem raramente nos cruzámos, o que nos deu a sensação de que tínhamos uma casa inteira só para nós — a sensação perfeita e pela qual tinha menos esperanças de que acontecesse, já que tínhamos feito a reserva para o fim-de-semana logo após o dia de S. Valentim. O número de quartos é reduzido mas a casa, essa, é um verdadeiro sonho campestre.

Foi — e ainda está a ser, em alguns detalhes — totalmente renovada. As paredes e móveis repintados, os espaços redecorados, procurando manter-se na vanguarda do bom gosto e este foi um pormenor que nos agradou muito. Apreciamos espaços que não se deixam consumir pelo tempo e que procuram manter-se intemporais mas modernos e o Monte das Aranhas conseguiu-o, privilegiando o tom branco e os apontamentos de cor, que nos remetem sempre para os dias de verão despreocupados.


O quarto. Os detalhes. Não era muito grande, mas era tudo o que precisávamos. Uma cama grande e confortável. Um mosquiteiro adorável que me fez sentir que estava nuns aposentos de princesa. Os livros à cabeceira para reforçarem o conceito de uma escapadinha no Alentejo e para darem uma mãozinha a quem tudo leu antes do tempo — ou nada trouxe. Os detalhes que ligavam com as restantes divisões da casa, essas sim, espaçosas.




A cozinha tinha um aspeto familiar. Talvez pela mesa grande e pelos bancos suecos. Talvez por, depois de um acordar sem horas, nos termos todos reunido quando o pequeno-almoço foi servido — simples, mas com tudo o que era preciso: padaria, bolo caseiro, iogurtes, bebidas quentes, manteigas e compotas, fruta (...) — ou pelo convite a preparar as refeições por aqui — coisa que fizemos, ao jantar.




As salas. Recantos com o seu propósito. Um salão principal com sofás de pele e uma lareira generosa com recordações de outros tempos e épocas; uma sala mais pequenina, com televisão, uma salamandra e alguns DVDs para uma sugestão de domingo à noite; e (a minha preferida) uma sala de leitura com lareira, uma estante impressionante com música, (mais) livros, poltronas confortáveis, mantas, uma mesa de chá e café e a porta de saída para um jardim maravilhoso, não sem antes colocar um chapéu de palha. Se se esquecerem do vosso, não há problema; o chapeleiro atrás da porta está repleto deles!






O jardim. De relvado verdejante, com espreguiçadeiras improvisadas, uma mesa de refeições exterior — e o quanto imaginei um almoço de verão em família, ao nosso jeito, por ali — e uma piscina que certamente faz as delícias no calor. Mas, talvez, o que gostei mais foi do alpendre. Da sombra do alpendre, onde nos podíamos recostar e ler um livro ao som do canto dos passarinhos e da brisa agradável — mesmo no Inverno. Era ali que me podiam encontrar, entre páginas folheadas e pequenas sestas. Era ali que queria ficar para sempre.


Guardei o melhor para o fim. Os patudos que por lá andavam. Abandonados por caçadores que já não lhes viam serventia — que crueldade... — e resgatados pela gerente do Monte das Aranhas, eles por lá circulam, nos espaços exteriores. Para eles, esta não é uma guesthouse; é a sua casa, a sua oportunidade de serem felizes, e recebem-nos com muito gosto. Por lá, andava um basset hound, um outro patudo cuja raça não identifiquei, uma gata anã para lá de amorosa e — pasmem-se! — dois rafeiros do Alentejo! Duas Belkas amorosas cravavam mimos e olhavam para nós com o seu olhar Calimero irresistível. É sempre injusto escolher preferidos, mas vocês sabem quem foram os meus companheiros prediletos, certo? No entanto, era a Oli — nome com que batizámos a gatinha, uma vez que ela não tinha nenhum — que mais me fazia companhia entre leituras, dormitando no meu colo e no ombro.
É por isto mesmo que o espaço é pet friendly e que podem levar os vossos animais de estimação convosco. Há espaço suficiente para brincarem, passearem e também eles desfrutarem do espaço!



Um fim de semana a dois, sem grandes aventuras turísticas mas com muita leitura à lareira — todas estavam acesas, que gostoso! — passeios ao Sol por entre os caminhos improvisados no campo, descanso e conversas de fazer perder noção do tempo entre os (a)braços que mais gostamos. Fazer as malas e regressar à civilização é sempre agridoce — eu gosto tanto da cidade, mas estes momentos são tão bons para mim...! — mas levamos sempre connosco o tempo a dois, as memórias, os pequenos momentos doces que retiramos de visitas especiais como esta. Se procuram um espaço semelhante — ou uma escapadinha do género — não podia recomendar mais. Uma verdadeira experiência no Alentejo, com todos os privilégios.

4 comentários

  1. Fui espreitar os preços e fiquei surpreendida, são acessíveis.

    As fotografias estão espectaculares!

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  2. Fiquei encantada, tanto com o que descreveste como com as fotografias. Parece-me mesmo o ideal para uma escapadinha e para quem gosta tanto de tranquilidade e Natureza como eu, sendo mesmo uma opção de considerar no futuro.
    Beijinhos

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  3. Excelente sugestão, Inês! Está na minha lista de lugares a visitar :) Obrigada!

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