FRIENDS || Tomamos por garantido?

Quando penso numa relação amorosa, vêm-me à cabeça uma dezena de palavras de ordem. E as que não têm as palavras 'não dar por garantido' para aí remetem, pelo menos. Valorizar a pessoa que está do nosso lado, dedicarmos-lhe o esforço, a atenção e o carinho que lhe dedicamos desde o primeiro dia e nunca, jamais, assumir que ela estará ali para sempre só porque a conquistámos. Mostrarmos que a valorizamos todos os dias.

E com os nossos amigos? Seguimos o mesmo padrão? Temos a mesma abordagem? À medida que os anos passam e vamos crescendo, sinto que cada vez mais nos afastamos desse 'sim' ou, pelo menos, é assim que a corrente segue e, sinceramente, não compreendo porque temos uma abordagem tão confiante em relação aos nossos amigos. Porque não os regamos com o mesmo empenho e atenção.

Já fui muito escaldada com amizades e demorei uns valentes anos a interiorizar que tinha mesmo amizades verdadeiras e que devia cuidá-las. E desde então, olho para os meus amigos com muita atenção e carinho. Sinto que, enquanto numa relação amorosa, temos o cuidado de valorizar e saber que o outro pode não ser para sempre se não o regarmos, para os nossos amigos observamo-los como um contrato de boa fé vitalício. A certa altura, criámos uma amizade e está feito! É para sempre. Teremos eternamente química, confiança, vontade de estar um com o outro e não há necessidade de cuidados especiais ou demonstrações simbólicas porque 'já sabe'. E se correr mal? E se a química termina? O contrato termina. Afinal, não era para sempre.

Não temos de olhar para os nossos amigos como olhamos para os nossos amores — nem faria sentido, já que o amor, a paixão, devia ser de um só canal — mas questiono-me muito acerca do esforço que depositamos nas nossas pessoas (e no quão discrepantes, por vezes, conseguimos ser). Como temos em mente o quanto é preciso valorizar quem temos ao nosso lado, e o quanto damos por garantido que os nossos amigos vão estar sempre lá apenas porque os chamamos de amigos e assim os consideramos. Não é assim que funciona porque somos humanos, carecemos de afecto, atenção, dedicação e esforço. Na amizade não podia ser diferente.

Não precisamos de cobrar nem casar com os nossos amigos. A vida, por vezes, leva-nos para caminhos diferentes, os cafés nem sempre são rotinas, as ocupações metem-se, muitas vezes, ao barulho. Mas se conseguimos contornar isso pelo amor, por que não o fazemos, também, pela amizade? Há quanto tempo não dizem aos vossos melhores amigos o quanto gostam deles? Assim mesmo, sem descrições no Instagram, sem ser num aniversário ou numa ocasião em que a doçura assim se espere. 'Eu quero que saibas que eu gosto mesmo muito de ti'. Quantas vezes, este ano que passou? 'Obrigada pela tua amizade, obrigada pelo teu apoio'. Quantas vezes, sem ser num aniversário ou dia especial?

Já fui uma miúda que tinha dificuldade em expressar afecto. Sentia-me vulnerável, lamechas. Depois compreendi que a ideia era absolutamente parva e sem lógica. O que há de negativo em dividirmos o quanto gostamos e apreciamos a presença dos outros? O que há de mau em partilharmos a nossa vulnerabilidade com quem — assumimos — queremos ter para sempre? Desde que compreendi isto que tenho tentado ser uma amiga que cuida, que não dá por garantido. Ainda há amigas que estranham, mas não me importo. Sinto-me mais livre e em paz por saber que faço questão de demonstrar a todas as pessoas da minha vida o quanto elas significam para mim, sem vergonha — não há que ter vergonha —. E fico para lá de feliz quando mo retribuem (especialmente se for espontâneo). Ninguém na nossa vida tem um contrato vitalício para connosco. E é bom que o valorizemos e não tomemos por garantido. Os nossos amigos não existem para nos servir.

5 comentários

  1. Esta é uma daquelas coisas básicas que implemento na minha vida e nas minhas amizades, desde sempre, na verdade. Nunca fui acanhada no dizer ao outro o quanto o estimo espontaneamente. Como escrevi num dos meus últimos posts, temos mesmo de atentar às nossas amizades, não são algo que devamos tratar de forma superficial e fico mesmo triste quando sinto que as pessoas não investem sequer 1/3 nas suas relações.
    Sempre que vou tomar café, um copo, jantar fora ou simplesmente passear com alguém, acabo a saída com um agradecimento sincero pelo tempo que passaram comigo e, se assim for, digo o quanto a pessoa é importante.
    Quero despedir-me da pessoa e ir-me embora com a sensação de que estamos de bem e a vida é bela.
    Gosto de celebrar a amizade e os momentos calmos e bonitos. Não há mal nisso e é das coisas mais bonitas que posso ver fazer.
    Obrigada por teres partilhado esta reflexão, é mesmo importante que as pessoas comecem a tratar mais os seus amigos como verdadeiros amigos que são.
    Estava com saudades de te ler. Gostava de falar ainda mais contigo, sinto que ainda vou aprender imenso contigo, não tens noção! Um beijo enorme.

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  2. Tive uma conclusão semelhante a esta há 1 ano atrás. E foi aí que comecei a escrever e, muitas vezes, a dizer naturalmente o quanto gosto de cada qualidade individual dos meus amigos. Digo-lhes constantemente, acho que sou a pessoa mais emocionalmente verbal de todos e se, por um lado, têm essa reação de estranheza como tão bem descreves, por outro, eu consigo dizer que se sentem super heróis naquele minuto. Os amigos são os nossos amores discretos. Precisam da igual atenção a que damos a uma paixão, só não o reinvindicam por acharem patético. Mas precisam. Bela reflexão, Inês.

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  3. Eu aprendi a estimar mais e melhor os meus amigos depois de algum tempo afastada porque "vivi para o meu namorado". Nessa altura afastei-me e quando a relação terminou, vi-me sozinha. No entanto, os meus amigos sempre lá estiveram e voltaram a receber-me de braços abertos. Desde essa altura que os estimo muito mais! Faço questão de marcar coisas, de dizer que os adoro e, embora muitos de nós estejam noutras cidades, tentamos sempre estar juntos uma vez por mês.

    Gostava de saber a tua opinião acerca de amizade após o término de uma relação, seja ela de curta ou longa duração!

    Blogue Meraki
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  4. Eu também era assim, não sabia/não conseguia exprimir os meus sentimentos aos meus amigos. Perdi amizades à conta de não valorizar algumas pessoas (é uma lição dura, mas aprendi). Há 3 anos uma pessoa muito importante da minha vida ficou doente e toda a minha prespetiva de vida mudou. De repente, percebi que tinha várias pessoas ao meu lado, que me apoiavam sempre que precisava. E passei a ser grata por tê-las na minha vida. Volta e meia mando-lhes uma mensagem, porque, se há coisa que a internet é mesmo boa é a encortar a distância.
    PS: o "spam" de comentários é porque não ligava o computador há quase 2 semanas e estou a atualizar as minhas leituras. Espero que não te importes :P
    Por onde anda a Sofia?-Instagram

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  5. Sinto que tomei consciência disso relativamente cedo (11º) com a passagem para o secundário numa escola diferente e sem o grupo de amigos. Não o aprendi pelas melhores razões mas fez com que tanto durante o secundário como, de novo, com a transição para a faculdade sem os amigos do costume por perto (fisicamente), tivesse especial cuidado com cada amizade que tenho. Aprendi que a suposta falta de tempo não é desculpa, tanto da minha parte como da dos que mais gosto, mesmo em épocas mais ocupadas existem mil e uma maneiras de substituir a presença física e acho que reconhecer isto foi extremamente importante para a minha evolução como pessoa, nomeadamente nas relações que estabeleço com os outros

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