FAMÍLIA || Olá, Belka!


Apesar do enorme vazio e dor que a partida da Laika nos deixou - que ainda perdura e que, sinceramente, sinto que ficará comigo, para sempre - sabíamos que queríamos continuar a ter patudos na nossa família. Eu sei que esta não é uma visão tão comum assim, especialmente quando perdemos os nossos melhores amigos; há várias formas de ir lidando com a dor e com a saudade e nem toda a gente suporta voltar a ter um companheiro porque o que partiu é insubstituível. E é. Nunca vão encontrar outro igual. Mas eu gosto de ver as coisas duma perspectiva mais alegre: eu tive condições para proporcionar à Laika a vida mais regalada e feliz possível e quero poder proporcionar isso a mais um patudo. Quero dar, uma vez mais, uma família a uma amiguinha.

Confesso que não sabia muito bem como iria lidar com todas as emoções, mas quis participar em todo o processo e, quando a ninhada nasceu, fomos visitá-los. Eram cachorrinhos tão pequeninos que pareciam porquinhos da Índia, minúsculos e frágeis, com uma mãe gigante e protectora a cuidar deles. Não sabia como escolher; a única vez que tinha participado num processo semelhante, tinha sido a Laika a escolher-me; poupou todo o meu trabalho. Como me iria decidir entre todas as fofuras que ali estavam?
O meu pai e a senhora do canil foram pegando em alguns para os vermos mais de perto. Eu dava festinhas em todos eles, mas eram tão bebés que nem reagiam; permaneciam quietos e aconchegados nas mãos, a dormir. Até que o meu pai pegou nela e a magia aconteceu; no meio de todos aqueles pequenos dorminhocos, ela, de olhos bem fechados, levantou a muito custo a cabeça, farejando na minha direcção, e esticou as duas minúsculas patas dianteiras para mim. O meu coração derreteu por completo e peguei-lhe imediatamente ao colo, onde ela se aconchegou no meu peito, pousou a cabeça no meu antebraço e, com a língua mais microscópica que eu já tinha visto, deu-me uma lambidela. Mais uma vez, o meu trabalho foi poupado; ela é que me tinha escolhido e eu não me importei nada.

É uma Rafeira Alentejana, chama-se Belka e o nome não podia ser outro, espacial também. A Laika foi a cadela pioneira, a corajosa que se atreveu a ir ao espaço, onde nunca antes um ser vivo se atrevia a ter ido. Mas não regressou e morreu em órbita. Foi mundialmente famosa e acarinhada. Mas um segundo par de cadelas fez, igualmente, História no universo dos programas espaciais: Belka e Strelka; duas cadelas russas que conseguiram o impensável: foram ao espaço mas, pela primeira vez na História, regressaram. Foram os primeiros seres vivos a ir ao espaço e a regressar à Terra sendo, portanto, também muito emblemáticas.



Um mês depois, voltámos a visitá-la para ver como estava agora, mais crescida. Fomos acompanhando as fotos e vídeos que os criadores publicavam com tanta assiduidade e estávamos desejosos de poder vê-la mais autónoma, de olhos abertos e, com certeza, mais reguila. O meu coração acelerou quando a senhora a estendeu para os meus braços; ali estava ela, ao meu colo outra vez, com o seu olhar melancólico, as suas sardas no nariz e a mancha na cabeça igual à da mãe. Do nada, deu um pulo, meteu as patas nos meus ombros e aninhou a cabeça no meu pescoço, como num abraço. A melhor emoção do mundo. Como se fôssemos amigas desde sempre, desde a vida toda, e estivéssemos a reencontrar-nos e a pôr o amor em dia. Estou radiante por voltar a sentir esta alegria de ter uma companheira de quatro patas.


6 comentários

  1. É super linda, Inês. Fico muito feliz por ti! :)
    Beijinhos grandes e muitas felicidades para ti e para a Belka.

    http://bloomblogue.blogspot.pt

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  2. É linda, Inês! E o nome não podia deixar de ser especial. Tal como tu, também dei as boas vindas a um novo patudo pouco tempo depois de termos perdido o nosso Simão. E a dor da perda não deixa de existir, mas a possibilidade de lhes proporcionarmos uma vivência alegre e repleta de amor, é inigualável.
    Muitas felicidades para esta nova vida e muitos mimos para a Belka!

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  3. Que cachorrinha mais fofinha, que amor! Fico tão feliz por voltares a ter uma companheira em casa! Tenho a certeza de que já conquistou um lugar especial na tua família e no teu coração :)


    A Sofia World

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  4. É tão linda! Infelizmente, os únicos companheiros de quatro patas que tive/tenho são os do meu namorado, portanto apesar de gostar imenso deles e considerá-los parte da família nunca senti que fossem verdadeiramente meus até porque nunca vivi literalmente com eles. Lá em casa, dizem que sou a "tia" deles. No entanto, gostaria muito de um dia poder ter um patudo - como tu lhe chamas e que achei amoroso - em casa :)

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  5. Há patudos com sorte e a Belka tomou a melhor decisão da vida dela! É de louvar que mesmo ficando com um buraquinho no coração desde que a Laika partiu que tenham continuado a achar que tinham imenso amor para dar e tenham dado a oportunidade de uma vida feliz a uma nova cadelinha. Ela é super fofinha e distinta! Vai ser engraçado ver a Belka a crescer, a descobrir o mundo e a tornar-se numa grande numa companheira para todas as ocasiões :)

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  6. Mas que patuda mais bela! *-* Acho fascinante dares nomes às tuas cadelinhas conforme esses factos históricos e científicos. Muito original!
    Tenho a certeza de que a Belka será a mais sortuda por estar na tua família, e espero que vocês sejam muuuito felizes e vivam muitas boas aventuras! ♥
    Beijinho grande,

    LYNE

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