PASSAPORTE || Dicas e Factos sobre Cuba (parte I)


1. O lema latino No pasa nada é verdadeiramente aplicado em Cuba, especialmente no que toca a burocracias. Tudo é feito com muita lentidão e tranquilidade, especialmente - e mais frustrante ainda - nos aeroportos. Lembram-se, numa publicação sobre viajar de avião, de vos ter aconselhado a não terem pressa de sair logo do avião assim que aterram? Pois, em Cuba, tenham. Assim que entram no aeroporto, uma fileira de cabines bloqueia a passagem, onde todos os passageiros, um a um, são colocados na cabine para que um segurança confirme o visto, tire uma foto e verifique se o vosso rosto corresponde à fotografia do passaporte. Em voos de 400 pessoas, e com 10 cabines disponíveis, conseguem imaginar o pandemónio. Além disso, não o farão de forma rápida, vão fazer tudo na maior das tranquilidades e, se preciso, fecham uma cabine com 50 pessoas na fila de espera, sem justificação. Sim, vocês querem ser os primeiros da fila! Um outro conselho, é que entrem na cabine já com o vosso rosto o mais próximo possível da vossa foto de passaporte. Isto quer dizer que se têm o cabelo apanhado, chapéus ou se estão a usar óculos e na fotografia não, tirem logo tudo e apresentem-se já sem nada, para que o processo não demore mais. E assim como é nos aeroportos, é na altura de check-in, check-out e qualquer burocracia. Estão no caribe. Tranquilo.


2. Não existe publicidade. Os típicos cartazes publicitários, posters, etc, não existem em nenhum ponto do país, nem mesmo na capital. Ao invés disso, encontram inúmeras frases de ordem sobre a revolução e sobre os heróis da revolução, quer em posters, cartazes, pintados nas paredes das casas ou até mesmo nos carros. Em Cuba não há forma de esquecer a revolução nem quem foram as principais cabeças que a marcaram; estão por todo o lado, com as mais diversas frases e citações. Até mesmo escrito nas pontes e nas sinaléticas. O que nos leva a um outro ponto: não há grandes sinalizações além dos limites de velocidade de estrada, identificação de cidades ou dos km até ao Capitólio. Não existe muita sinalética para direcções. Já as casas, têm pintadas nas paredes as mensagens que querem passar no bairro, como "Não estacionar" pintado ao pé da porta principal ou "Educa o teu filho" nos muros de um jardim de infância. Os nomes das lojas também são desenhados a pincel nas paredes.

3. Existem duas moedas principais em Cuba, os chamados CUP e CUC. CUP é o peso cubano utilizado pelos residentes, no qual vocês praticamente não irão mexer, se lá forem, porque nem mesmo em câmbio vos entregam estas notas. Aliás, são raros os locais que as aceitarão, se tentarem pagar com elas. Os preços em CUP são altamente inflacionados, chegando a ser ridículo a diferença de preços entre CUP e CUC. CUC é o peso cubano convertível, que é o que vos será entregue nos câmbios. Basicamente um 1 CUC corresponde a 1 Euro, mais coisa menos coisa, pelo que não é difícil fazerem comparação de preços entre as duas moedas. Ainda assim, podem levar os Euros à vontade. A não ser em hotéis e institutos, a maioria das vossas compras pode ser paga em Euros, sem qualquer problema.

4. Sim, existe Coca-Cola em Cuba. O mito aqui acaba.



5. Os transportes são um tópico muito complicado neste país. Os carros são muito poucos e bastante velhos e os transportes públicos e privados, além de funcionarem mal, albergam por autocarro mais de 100 pessoas seguidas, se preciso, em sardinha em lata. Todos os autocarros de Cuba são hora de ponta no metro de Lisboa - pior! - e é assustador e horrível. Uma solução muito típica no país é o pedido de boleia, que é absolutamente natural por lá. Se fizerem viagens de carro ou seguirem pelas estradas cubanas, não estranhem ver dez pessoas seguidas pela margem da estrada de polegar levantado ou com um cartaz a dizer o destino. É uma prática mesmo muito comum.

6. A maioria das fotos nos museus e espaços turísticos são proibidas ou cobradas. E quando proíbem, são austeros. Nem a máquina fotográfica ou telemóvel devem estar avistados, mesmo que não tirem qualquer foto! São inúmeros os lugares com este tipo de proibições e, quando não proíbem, quase sempre cobram as fotografias no interior, excepto nos claustros, fachadas ou miradouros. Na minha opinião e sendo um completo absurdo (não na questão da proibição, mas na questão da cobrança, por ser um simples capricho económico), não aceitei pagar nenhuma vez em nenhum museu para tirar fotografias. Recusei-me completamente e, por isso, todos os detalhes e pormenores dos museus e monumentos que visitei, preservo-os na memória. Aproveitei apenas para fotografar as fachadas e os claustros e não estou, de todo, arrependida. Havia sítios que nos cobravam quase 5 euros para tirar fotografias de telemóvel. Fica ao vosso critério.

7. O desporto rei é o Basebol, apesar de, logo de seguida, vir o Futebol. É muito curioso; pelas cidades, o que mais se observa são campos de basebol, ao contrário dos clássicos campos de futebol com balizas sem rede e os estádios são também dedicados ao desporto do taco, embora hajam tendências entre gerações: os filhos estão mais inclinados para o basebol, os pais para o futebol, e os avós, de novo, para o basebol.

8. A Baía de Cochinos é a baía mais profunda de Cuba, e para onde quase todas as excursões de mergulho se dirigem. É lá que se realizam os baptismos de mergulho entre turistas e onde podem ver um pouco da biodiversidade marinha do país.

9. O período militar ainda é obrigatório em rapazes a partir dos 18 anos, devendo fazer-se cumprir por 2 anos. No entanto, podem prescindir fazer esse período se estiverem na Universidade. Isto funciona como um gatilho de motivação para que os jovens cubanos prossigam os estudos.

10. O ensino em Cuba é gratuito, desde o ensino primário até à Universidade. Nenhum aluno tem de pagar o que quer que seja para estudar. No entanto, este "privilégio" tem algumas limitações: todos os recursos que os estudantes recebem para estudar desde um livro até aos cadernos, canetas e lápis, têm de ser devolvidos no final do período lectivo, sempre. Nada fica com o estudante e, por vezes, há escolas em estados lastimáveis em prédios degradados, prontos a ruir a qualquer momento.

Fotografias da minha autoria, por favor, não as utilizar sem autorização prévia

12 comentários

  1. Estou a adorar as tuas publicações sobre Cuba!

    Sentiste que era um país seguro? Ou seja, enquanto turista, sentias-te confortável a sair e passear com um grupo pequeno de pessoas?

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  2. Adorei! E o "fim do mito" da coca-cola, haha! A diferença entre os CUC e CUP era algo que nos irritava solenemente. Por um lado, percebo que se cobre mais ao turista que ao local. Por outro, é como dizes: diferenças exorbitantes de preço! Nós chegámos a conseguir alguns CUP e a comprar umas coisitas assim - recordo-me de irmos à Coppelia (a gelataria) pela fila dos residentes e comprarmos com os CUP. Ficaram com ar desconfiado mas não nos impediram, haha.

    A questão da educação é interessante, sabia que era gratuita, não sabia que tinham de devolver tudo - mas de certo modo acho que faz sentido, é a única forma das coisas serem reutilizadas. Recordo-me de falarmos com uma mãe cubana que dizia que o desporto também é gratuito para estudantes (não me recordo em que modalidades, mas sei que têm direito a praticar um desporto à parte, fora da escola). Já a condição das escolas é normal, reflecte o estado da maioria das construções. Cuba não produz matéria-prima para construção e, se não importa, não consegue. Com o embargo dos últimos 50 anos a importação de matérias-primas ficou caríssima, pelo que acaba por ser limitada - e as casas ficam um desastre. O mesmo se aplica aos veículos (carros, autocarros, etc), muitos já têm dezenas de anos porque desde o fim da URSS que Cuba tem imensas dificuldades em importar o que quer que seja. Por isso considero tão importante estas mudanças dos últimos tempos e fiquei feliz quando soube que na semana passada houve o primeiro voo comercial entre os EUA e Cuba em mais de 50 anos! Para os EUA já não faz sentido manter o embargo (já não é justificável, se é que alguma vez foi) e Cuba precisa urgentemente que o mesmo seja levantado, pelas condições de vida das pessoas.
    Adoro este tipo de posts e o teu não foi excepção!
    Aonde (não) estou

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    1. A verdade é que o embargo continua. Cuba continua sem conseguir exportar e com grandes dificuldades em importar o que quer que seja - e isto foi-nos partilhado, quando lá fui -. Parece incrível que finalmente haja uma "evolução" e um primeiro voo comercial mas... Isto está bem longe de terminar. E, de momento, parece-me que só uma parte está a lucrar. Aliás, acho que piorará quando Fidel falecer.

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  3. Adorei a parte de não haver cartaz publicitários! Acho que é uma ótima iniciativa porque além de manterem viva a história do país e os heróis, é uma forma de criar menos poluição, não sei se me faço entender ahah
    Cá em Portugal é muito comum vermos imensos cartazes e muitas vezes acabam por ficar lá a degradar e até mesmo caídos no chão...

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    1. Eu não tenho essa opinião tão... Inocente, digamos. Longe está de ser por razões ambientais. Claramente a mensagem é de controlo. "Não se esqueçam, porque vamos obrigar-vos a nunca esquecer".

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  4. É pena as condições das escolas, pois, o facto de não se cobrar nada pelos estudos é simplesmente brutal! E a técnica que usam para motivar os estudos das pessoas é incrível.
    Isso das fotos em espaços turísticos é interessante, um pouco estranho, nem percebo muito bem porquê, mas mantém um certo mistério à volta de toda a arte...
    Quanto à publicidade, acho que não faz realmente falta nenhuma, essas frases são uma forma muito mais engraçada de «entreter» os cidadãos.
    Gosto muito desta rubrica. Mesmo! Continua Inês :)

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  5. Gostei tanto desta publicação! Continuo a dizer que me encheste de vontade de ir a Cuba - e cada vez mais :)

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  6. Fiquei cheia de vontade de visitar Cuba!
    É horrível que as escolas estejam em mau estado, especialmente quando os habitantes têm a oportunidade de estudar sem gastar dinheiro.
    Honestamente, muito obrigada por mostrares Cuba como é e não só a parte bonitinha e perfeita como tanta gente faz!
    http://sunflowers-in-the-wind.blogspot.pt/

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  7. porque é que haveria de não haver coca-cola em cuba? desculpa não compreendi

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    1. Com o Embargo político em Cuba, o país tinha sérias limitações para exportar e importar produtos para os EUA. Isso, claro, incluía produtos como a Coca-Cola, que não podiam ser importados. Cuba tornou-se, assim, um dos dois países cuja Coca-Cola não era comercializada, e tal facto tornou-se lendário. Mas, recentemente, já houve o levantamento do Embargo e Cuba pôde, finalmente, importar Coca-Cola. Ainda assim, o mito persistia (montes de pessoas disseram-me que não havia Coca-Cola), por isso é que achei engraçado partilhar :)

      Ainda assim, Cuba tinha a sua própria "Coca-Cola", da marca Ciego Montero. Eu experimentei, mas era um bocado manhosa x)

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  8. Assim que falaste do basebol lembrei-me de imediato do professor cubano de violino que tive enquanto toquei. Para além de nos falar de curiosidades do desporto (e do país em si) de vez em quando, jogava nos intervalos connosco com bolas feitas de papel de prata e let's just say que era um mestre.

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  9. Estou a adorar o facto de nos trazeres coisas tão interessantes acerca de Cuba! Que venham mais curiosidades por aí! :P

    A Vida de Lyne

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