PASSAPORTE || 10 Coisas que aprendi a viajar


Viajar é uma das coisas que mais me preenche e enriquece. Algumas das aprendizagens mais importantes que fiz, ao longo da vida, foram assim, num outro destino, numa realidade em contraste com a minha, numa aventura. Escolhi alguns dos destinos por onde já pisei e as lições que retirei de lá. Viajam comigo?

1. Os sonhos tornam-se realidade
Em 2005 fui à Disneyland pela primeira e única vez, até à data. Foi uma das maiores surpresas da minha vida. Os meus pais sentaram-me à mesa, perguntaram-me se tinha testes por volta da altura do Carnaval e ta-daaaa, vamos a Paris, vamos à Disneyland!!! Eu não dormia e contava os dias para lá chegar. Porém, três dias antes de viajarmos, fiquei muito doente. Estava acabada e nem os olhos conseguia abrir. Fiquei desesperada, em lágrimas porque, se assim permanecesse, não ia poder viajar, os meus pais jamais o permitiriam. Ficou combinado que, se na manhã do embarque, não estivesse totalmente bem, a viagem seria cancelada. Lembro-me perfeitamente de, na véspera, fazer todas as figas para ficar boa. No dia a seguir acordei impecável!!! Lágrimas de emoção!! Ainda fui com alguns medicamentos na mochila, mas pude concretizar aquele sonho imenso de ir à Disneyland, ver este mundo que, ainda hoje, adoro e abraçar o Mickey. Ir à Disneyland fez-me perceber que nenhum sonho é demasiado grande para nós.

2. É possível sentires-te em casa, num lugar completamente distinto do teu
Aprendi isto em Londres. É uma metrópole completamente distinta de onde vivo ou de Lisboa. Lembro-me de subir as escadas do metro e sentir o cheiro a amendoins caramelizados, de o Sol brilhar muito (um céu muito pouco Londrino) e de os raios de luz reflectirem nos arranha céus. Londres é apressada, multicultural, escura e fria. E eu senti-me em casa como nunca antes me tinha sentido, em nenhum outro lugar. Andava pelas ruas como se fossem minhas, dominava os espaços, conversava com as pessoas. Por muito que gostemos do nosso lar, por muito que nos sintamos em casa na nossa casa, há um lugar no mundo feito para nós, à nossa medida. E mesmo que não voltemos a esse lugar, mesmo que não fiquemos para sempre, vamos sempre recordá-lo com uma familiaridade que não existe noutro lugar. Um pouco como quando conhecemos pessoas que levam um pedacinho do nosso coração, como se as conhecêssemos desde sempre, mesmo que não fiquem para sempre.

3. Aprendi a gostar de estar sozinha
Eu não aprendi unicamente isto a viajar, mas consagrei toda a minha aprendizagem quando fui a Paris sozinha. A cidade do amor só para mim. Aprendi que a nossa companhia pode ser aquilo que mais precisamos, às vezes, e que não há limites para as coisas que conseguimos fazer quando somos colocados à prova. Perdi-me em bairros que não fazia a mínima ideia que existiam, vi-me no meio de um conflito entre adeptos de duas equipas de futebol (com petardos incluídos) e tive de tentar sair dali o mais depressa possível, vi todos os museus que desejava, no tempo que desejava, sem me preocupar se alguém estava aborrecido, só eu e a música do meu mp3, passeei tanto quanto quis, comi onde quis e fiz as compras que desejei. É libertador quando aprendemos a cuidar de nós e a passar tempo de qualidade connosco. E ao saber que me vi em situações chatinhas, em que me vi perdida ou no meio de uma capital que finge que não sabe inglês, aprendi que sei desenvencilhar-me sozinha. E isso foi muito importante para o meu auto-conhecimento e para ter a certeza de que me basto.

4. É um privilégio viver onde vivo, ter o que tenho, poder fazer o que posso
Foram duas lições preciosas que retirei da República Dominicana e de Cuba. Lugares com uma enorme pobreza, com grandes restrições políticas e financeiras, que fazem do seu nada um tudo e que ainda nos cumprimentam com um sorriso maior que o nosso. Aprendi que os meus problemas não são gigantes, que não existo sozinha neste mundo e que jamais este planeta vai ter tempo e pachorra para estar contra mim. É um privilégio viver num país que não está constantemente em conflito armado, viver num lugar onde posso escrever onde me apetecer sem o risco de sofrer consequências irreversíveis, de ter um tecto sólido, uma casa em condições e uma cama de luxo, só porque é uma cama.
Aprendi a valorizar o calçado que tenho e por ter um armário com roupa. Aprendi que estas pessoas não vivem só em reportagens na televisão. Elas vivem todos os dias na miséria, mas com felicidade e animação. Eu aprendi a valorizar e a ser ainda mais grata.

5. Podemos apaixonar-nos pelos lugares mais inesperados
Quando fui para a República Checa estava muito entusiasmada, mas jamais imaginei que poderia apaixonar-me daquela forma por Praga. Pela harmonia entre a cidade velha e a nova, pela arquitectura, pela herança histórica, pelos jardins que, ao fim da tarde, se enchiam de pessoas, pela peça de teatro que assisti na Ópera, pelos canais - sim, Praga também tem canais -... Descobri que, por vezes, estamos tão programados para só adorarmos certos lugares populares (como Londres, Paris ou Nova Iorque), que depois nem reparamos no quanto estas cidades rústicas, históricas e poderosas podem fazer por nós. Praga foi uma das melhores surpresas da minha vida e reafirmou a minha certeza de que o mundo não é composto só por quatro capitais globais. Ensinou-me a querer explorar mais recantos do mundo e a abrir horizontes. Mente aberta é essencial.

6. A opinião dos outros não é lei
A primeira vez que fui a Veneza foi através de um comboio vindo de Milão, onde estava hospedada. Partilhei com imensa gente, antes de embarcar para Milão, que ia tentar ao máximo ir a Veneza e recebi imensos comentários a dizer que Veneza era cliché, que cheirava mal - a esgoto - que tinha ratos, que não era nada de especial, que os postais traduziam imagens falsas da realidade... Acabei por ir sem a mínima expectativa, unicamente com o desejo de conhecer mais uma cidade, de ver o que esta podia oferecer-me. E Veneza é lindíssima. Veneza é um postal. E não cheirou uma única vez a esgoto (fui no Inverno, talvez a a época de visita seja, de facto, essencial) nem vi uma única vez um rato. Na segunda vez que lá estive, idem. Compreendi que as pessoas vão ter muitas opiniões sobre vários destinos e lugares mas que eles nem sempre reflectem essa mesma cidade ou país. Reafirmei o quanto é importante sermos nós próprios a tirarmos as nossas próprias conclusões e a satisfazermos a nossa curiosidade com os nossos próprios olhos e perspectivas, e não seguirmos como cordeiros a opinião dos outros. Porque se fosse na conversa deles e não quisesse visitar a cidade por ser cliché, eu teria perdido um dos melhores pores-do-Sol da minha vida, no Grand Canal, sentada numa gôndola.

7. Perto não significa igual
Concluí isto na Escócia e em Espanha. Quando fui a Londres, fui recebida com muita antipatia e frieza. Os ingleses são assim. Muito na sua, sem desejarem ser incomodados. Muito contidos e conservadores. Por sua vez, quando pisei a Escócia, fui recebida com uma simpatia quase latina, quase nossa. As pessoas sorriem para ti, querem saber ao máximo se estás a gostar da tua estadia, cada vez que eu abria o mapa em plena cidade, algum local aproximava-se de mim e perguntava "Do you need any help? Are you lost?", recebia muitos conselhos e dicas quando ia a restaurantes... E isso fez-me compreender muito bem que a proximidade de destinos não quer dizer nada. O mesmo se aplica a Espanha, que toda a gente diz não ser uma "viagem a sério" porque Portugal é aqui mesmo ao lado. Espanha tem uma característica comportamental e cultural muito distinta da nossa, embora existam certas semelhanças e heranças em comum. Tal como Inglaterra e Escócia. A proximidade não quer dizer absolutamente nada.

8. Todas as viagens são viagens a sério e todas as viagens são válidas
Já fiz vários tipos de viagens, com diferentes propósitos e muitas vezes fui criticada por desejar ir a um destino tropical quando há "Tantos destinos na Europa com museus tão importantes de se conhecer". Certo, e uma viagem invalida a outra? Nunca. Aprendi isto: todas as viagens enriquecem-nos. Todas. De formas diferentes, claro, mas em todas não não voltamos os mesmos. Seja por um museu que transformou a nossa visão sobre a arte ou a música, seja pelo passeio que demos num parque, pelos animais que vimos num safari, pelas cascatas onde mergulhámos, pessoas que conhecemos e comunicámos, montanhas que subimos, grutas que visitámos, sabores que provámos. Ou mesmo pela praia onde nos estendemos o dia todo. Em todos os lugares retiramos algo e uma mensagem importante para a nossa vida. Há viagens que nos fazem descobrir coisas sobre determinado lugar e outras viagens que nos fazem descobrir coisas sobre nós próprios.

9. É fundamental escolher bem a companhia
Sozinha, com a família, com amigos ou namorados... Eu aprendi que a companhia que escolhemos para viajar transforma completamente a nossa viagem. Até mesmo a nossa própria companhia. É muito importante sabermos que as pessoas ao nosso lado conseguem compreender os nossos interesses turísticos e nós os delas. E sabermos atendê-los o melhor possível. Ter um parceiro de viagem que goste exactamente das mesmas coisas que nós é óptimo, mas nem sempre isso vai acontecer e é importante que haja alguma harmonia. Às vezes, uma má experiência de companhia pode resultar numa péssima visão do destino que escolheram. Ou o contrário, às vezes a companhia transforma o destino num lugar ainda mais bonito do que já é.

10. Regressar a casa é maravilhoso
Por mais viagens que tenha feito (gostava de ter muitas mais nas costas, mas faço o que posso), por mais que adore a sensação vibrante que é pisar um lugar pela primeira vez, por mais que custe não ficar em certos lugares para sempre, descobri o quão bom é regressar a casa. Nem sempre me refiro à estrutura, às minhas coisas, à minha cama. Às vezes refiro-me às minhas pessoas, que ficam do outro lado, à minha espera. Regressar aos seus abraços, aos seus beijos, à sua voz, às suas expressões. Viajar é maravilhoso, mas voltar para casa também é sensacional.

20 comentários

  1. Que lições tão valiosas, Inn! Espero poder aprendê-las brevemente por experiência própria! ^^
    Beijinho*

    ResponderEliminar
  2. É tão bom ler as tuas publicações de viagens. Tens uma bagagem gigante em relação a mim e dás-me sempre uma vontade enorme de fazer outra e outra viagem. Algumas dessas lições eu já aprendi, felizmente, mas é sempre bom lê-las e ter noção delas (:

    ResponderEliminar
  3. "quando for grande quero ser como tu, deixas-me?" Ahahah
    Tu és daquelas pessoas que me faz acrediar que é possível. Continua com as tuas viagens, com os teus relatos, com os teus ensinamentos. Adoro tanto o Bobby Pins <3

    http://blog-flor-mar.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  4. Concordo com todas mas o ponto número 8 é tão mas tão importante! As pessoas julgam muito o tipo de viagem que escolhemos fazer e isso não faz sentido.

    ResponderEliminar
  5. O ponto 3 é para mim um dos que mais destaco. Gosto de estar e conhecer lugares novos sozinha. Não tive a oportunidade de o fazer tanto como desejaria, mas quem sabe no futuro. :)

    ResponderEliminar
  6. Quero poder um dia extrair tais e mais aprendizagens com as viagens como tu!! Mal posso esperar por começar a fazê-lo de forma dedicada!!

    A Vida de Lyne

    ResponderEliminar
  7. Agora deixaste-me com vontade de viajar ahaha
    http://sunflowers-in-the-wind.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  8. Apesar de não ser muito viajada ( não tanto como tu), já tive oportunidade de aprender algumas dessas lições :).
    Identifico-me muito com o ponto 2, também me senti em casa em Londres, adorei a multiculturalidade da cidade, a própria cultura britânica, o ambiente, as pessoas, os monumentos ( só não gostei do clima xD)...
    Beijinhos,
    Cherry
    Blog: Life of Cherry

    ResponderEliminar
  9. Tal como tu cheguei a praga e fiquei deslumbrada! Cheguei à noite, já cansada de longas horas de carro mas sai do hotel para conhecer a cidade e só te sei dizer que foi mágico. Nunca pensei gostar tanto duma cidade que tanta gente subvaloriza!
    Recomendo sempre! Se pudesse lá voltar agora não hesitava.
    Quanto a veneza ouvi exactamente as mesmas coisas e só sei dizer que se essa gente foi a Veneza perdeu-se no caminho e acabou noutra Veneza! (tipo como Cuba está para a Cuba do Alentejo :P)
    Eu fui no verão e os canais estavam óptimos, não cheirava a nada e ainda andei algumas vezes de Gondola!

    Eu amo viajar e conhecer as diferenças deste mundo tão grande. Uma viagem tropical não se satisfaz mas é por mim, porque não é o meu tipo de destino (sou mais de andar a explorar uma cidade e a entrar em todos os museus que puder seja aqui, em portugal, seja noutro canto do mundo mas descansar não é comigo) e não porque não ache que não tem valor. Acho uma estupidez quem pensa assim, é sinal que se viaja para os outros verem e não para nós. Revi-me muito neste teu post! ^^

    ResponderEliminar
  10. Apesar de ainda não ter aprendido todas essas coisas, já aprendi algumas e não podia concordar mais. Até hoje, houve uma cidade que me fez sentir mesmo em casa, onde quero sempre voltar e ser mega feliz. E que ainda hoje chamo de "casa" porque no fundo é a minha casa fora de Portugal :)

    ResponderEliminar
  11. Inês podes, se puderes claro, fazer um post um dia sobre o teu top favorito de filmes? Adoraria ver as tuas escolhas e justificações :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nunca tinha pensado nisso, Anónimo, obrigada pela sugestão, farei brevemente :)

      Eliminar
    2. Eu é que agradeço! Mal posso esperar por ler :)

      Eliminar
  12. Inês pode ser difícil escolher, mas achas que conseguias fazer um top de destinos a que já foste e um top dos que mais queres visitar? :)
    Concordo com o 1º ponto, este ano soube que em 2017 iria fazer Erasmus para Itália (dois sonhos num só) e ainda que posso ter oportunidade de no ano seguinte fazer um interrail. Acho que o mais importante é não desistirmos de viajar, e não pensar que "só os ricos é que podem" porque as coisas não são bem assim!

    ResponderEliminar
  13. Identifiquei me com Londres também senti que pertencia àquele sítio e os locais a que já foste são de invejar (no bom sentido claro!)

    Isto é um pouco estranho mas estás a ver quando quando dizem que tens por ex cara de Beatriz? E se fizéssemos isso com países? Eu cá acho que a tua cara me lembra a Islândia pela cor dos teus olhos e pelo teu ar de princesa do gelo mas também por passar despercebido no mapa mas ser bonito, incrível e cativante! E eu penso que és assim! Espero que isto não tenha sido muito awkward mas lembrei me de repente x)

    ResponderEliminar
  14. aprendi muito disto tbm! principalmente com praga, aconteceu-me o mesmo! fiquei completamente apaixonada por praga! :p

    ResponderEliminar
  15. Inês, fico sempre admirada com as tuas palavras. Hoje, o que mais me tocou no coração foi a descrição da aprendizagem da tua viagem sozinha. Se há coisa que quero fazer, é essa. Conhecer-me a mim mesma sem o frenesim da minha cidade, dos meus amigos, da minha família. Ter oportunidade de olhar para dentro de mim bem longe daqui. Tirar uns dias para estar na minha companhia e saber sorrir sozinha!
    Mal posso esperar por começar a viajar e a sentir tudo o que descreveste.
    Um beijo enorme Inn.
    Gosto muito de te ter aqui na blogo, sinto-me em casa.

    ResponderEliminar
  16. Nunca tinha sentido o ponto dez até esta semana, quando pisei Lisboa. Soube bem. :)

    ResponderEliminar
  17. Cada vez mais partilho dos mesmos sentimentos.

    Cátia ∫ Meraki

    ResponderEliminar

Partilha comigo o teu comentário ou opinião sobre este artigo. Sempre que possível, respondo às perguntas diretamente no comentário. Obrigada por estares aqui :)

Desde 2014

Instagram


P.S: HÁ SEMPRE BOAS NOTÍCIAS AO VIRAR DA ESQUINA
_______________________
Bobby Pins. Theme by STS.