DESPORTO || Aikido


Estava nas portas de entrada para a adolescência quando comecei o mundo do Taekwondo. Inevitavelmente, sempre achei que a minha escolha por esta arte marcial em detrimento do Aikido tinha sido sempre um pouco agridoce para o meu pai - mestre e professor de Aikido -. A verdade é que o Aikido (arte marcial japonesa) foi a minha primeira arte marcial mas - e como o meu pai sempre afirma, com razão - raramente é uma arte iniciada desde pequenos; Não há pontapés com floreados, não há murros com trezentos movimentos de braços antes, não há pulinhos, não há competição nem há cintos coloridos. Quer queiramos ou não, isto é o principal atractivo dos miúdos, razão pela qual 90% dos alunos do meu pai são dos 18 anos para cima.

Mesmo tendo escolhido uma outra arte marcial para praticar, há uns tempos reconheci o quanto fui aprendendo, ao longo dos tempos, com o Aikido, através do meu pai - muito mais até do que todos os meus anos de Taekwondo -. Quando era novinha ia às aulas dos adultos - ainda o meu pai era o aprendiz, o aluno - e eu fazia os treinos com os mestres (eles adoram treinar as técnicas com crianças porque são genuínas na reacção e no contra-ataque) e ainda hoje sei fazer movimentos e técnicas que aprendi aos 5 anos e que valem muito mais do que um pontapé arqueado. Eu consigo libertar-me de qualquer pessoa que me agarre pelos pulsos, seja uma criança ou um homem corpulento de 100 quilos a agarrar com força os meus pulsos de formiga. Não só me liberto como ainda lhe chego ao pescoço e o imobilizo. E descobri que fazia esta técnica com elevada naturalidade e eficácia numa coisa tão simples: tentaram agarrar-me para fazer cócegas e eu libertei-me todas as vezes. Genial, tendo em conta que nunca mais fiz nada de Aikido há 10 anos. Pensava eu.

A verdade é que quando toda a gente aborda o meu pai sobre as técnicas de Aikido, o fascínio é tremendo. Porque não há pontapés esvoaçantes, mas há imobilização do adversário com mestria; Porque não se fazem murros ou defesas arqueadas mas ensinam-te a libertares-te de alguém que te agarra o pescoço; Porque não tem competição mas não vale de nada sabermos dar pontapés se não aprendemos que zonas corporais são mais eficazes para o nosso ataque (para quê dar um murro no braço ou no abdómen quando temos os olhos e os ouvidos que desequilibram muito mais?). E depois de quatro ou cinco se lançarem contra o meu pai e de caírem todos redondos no chão sem o despentearem, correm logo para a recepção para fazer as suas aulas. Mas Aikido é, e sempre foi, muito mais do que uma arte de ataque e defesa. É uma filosofia.

Os alunos têm de entrar sempre antes do mestre e limpar o tapete. Varrem, arrumam o fato, aquecem, perfilam-se de acordo com cada graduação e aguardam que o mestre entre para começarem a meditação. Há sempre meditação antes do início do treino. No final do treino, voltam a limpar todo o tapete e desta vez com esfregão incluído. Aikido não ensina só a desviarem uma faca que está direccionada à vossa cara. Aliás, não vos ensina a entrar em cenas de pancadaria; todos os mestres de Aikido dirão que "Se estás a ver confusão, pancadaria ou tiroteio perto de ti, corres para o lado contrário porque a pistola tem sempre razão". Aikido ensina-nos a estar à mesa; a ter postura; como nos comportarmos com os mais velhos e mais graduados; a ter tolerância e a aguentar o cansaço, mesmo quando quer tomar conta de nós; a sermos mais do que revelamos num primeiro soslaio; e a saber responder na exacta medida do nosso atacante, sem nunca querermos ser mais fortes que eles mas sim usar a força deles e as limitações corporais contra eles. E eu acho que isto é uma verdadeira arte.

Não me arrependo dos pontapés e combates de Taekwondo. Estava na idade certa para os fazer, sei bem. E também sei que, apesar de nunca mais ter ido a treinos, nem limpado tapetes, nem meditado, nem estudado para exames para os graus de Dan, eu aprendi muito Aikido. A começar pela forma como estou em sociedade e com o que digo à mesa e a acabar soltando-me 10 vezes do meu namorado, a tentar prender-me para me fazer cócegas - para sua grande frustração e para minha diversão.

2 comentários

  1. não conhecia esta técnica! fiquei muito curiosa! :)

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  2. No ano passado, antes de entrar na Patinagem, a minha ideia era praticar uma arte marcial pela questão que referiste: por serem mais do que «luta», por terem filosofia e por nos ensinarem mais sobre nós mesmos.
    Falava com um dos meus maiores amigos e ele disse-me, passados 4 anos de amizade forte e muitas conversas mesmo, que praticava artes marciais. Como é óbvio, fiquei chocada por não saber isso sobre ele, porém, rapidamente identifiquei muitos traços da calma, postura, bondade, que estas artes ensinam, na sua personalidade. É algo que me atrai bastante, tenho muita curiosidade em experimentar. Tem apenas sido complicado levar a minha mãe a crer que é algo que me fará bem! Um dia quem sabe, pois fiquei extremamente curiosa com o Aikido.

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