PASSAPORTE || Estudantes de Veneza


Quando estive pela segunda vez em Veneza, a minha estadia foi feita num Apart-Hotel. Compensava em vez dos vulgares hotéis e permitiu-nos fazer algo que eu até gosto: fazer compras de casa - nomeadamente comida - e cozinhar em família.

O local que escolhemos era muito perto da maior parte das Faculdades que lá existem. Eu até diria Campus, mas não faz grande sentido dada as dimensões. Na nossa rua havia um canal com uma ponte, que atravessávamos e dava acesso a uma rua de pequenos bares e uma pizzaria, onde de lá cheguei a levar uma magnífica pizza e de onde vi a maior parte dos estudantes a passar lá um bom bocado ao som de Spotify italiano.

Mais à frente havia uma pequena praça que lembro estar sempre cheia de gatos pretos. Eram imensos e assustavam-se sempre com uma torre de relógio que havia erguendo-se na praça, cor de tijolo e perguntei-me quanto tempo mais os gatos iriam assustar-se com algo que toca a todas as horas. Nós íamos a essa praça porque tinha um mini-mercado onde fazíamos as compras para a casa e onde comprávamos coisas para ir comendo também ao longo da viagem (ou estaríamos destinados a uma migalha de bolachas nos cafés por quatro euros e meio). Durante essas minhas visitas a essa praça estavam sempre a circular estudantes, a toda a hora. Uns até faziam esboços desses gatos, mas a maior parte carregava sempre uma pasta preta, de grande tamanho, como se vê com o pessoal de artes no Secundário também, daí eu julgar que a Faculdade que estariam a frequentar teria algo a ver com Belas Artes - vim a descobrir depois que era de Arquitectura, estava lá perto -, e com o tempo que lá estive vim-me apercebendo que os grupos que por lá passavam não tinham todos a mesma nacionalidade ainda que na língua dominasse o italiano. E não pude deixar de pensar num destino como Veneza para se ser estudante de Ensino Superior; Bastante peculiar. Quão fartos estariam eles de água? Quão chato seria quando estavam a sair da Faculdade e se deparavam com uma aqua-alta?

Ali não há nada de juvenil a não ser turístico; Não há pubs, há pequenos cafés que fecham cedo se não estiverem perto do Grande Canal e é uma cidade que adormece e fica escura de noite. É puramente turística. A voltar para casa, muitos eram os becos que atravessava em completa escuridão e, para me salvar, depois mais um pequeno beco com alguma luz. Estava acompanhada mas se lá vivesse e voltasse para casa sozinha não sei como faria. Além de escuros os becos eram estreitos e desprovidos de qualquer ser vivo por perto. Eram pura parede pelo que, se fosse apanhada ali muito pouco poderia fazer que não correr e jogar ao labirinto com o minotauro enquanto gritava por ajuda.

Ainda assim não deixei de pensar no quão fantástico seria fazer uma licenciatura ali. Da janela da minha casa dava para ver uma parte de uma Faculdade e o interior de uma sala. Não tem nada a ver com as nossas, o estilo e as pessoas. Não é uma secretária, senta, ouve e escreve. Era... Dinâmico.

No ano passado conheci um italiano, graças à Sal. Vivia a uma hora de Veneza e, curiosamente, foi lá onde estudou. A primeira coisa que lhe perguntei quando soube e recorrendo às memórias foi "Como? Como se consegue ser estudante ali?" e ele lá me explicou os truques deles. E quando mos contou fiquei ainda mais fascinada por misturarem o mundo turístico que todos vemos de Veneza com a parte ocidental de Veneza - que é basicamente uma cidade normalérrima onde todos os habitantes de Veneza quase vivem - e onde tem os hospitais, discotecas, lojas, etc.

Não tenho o meu curso em Veneza, mas se fosse estudante de artes já tinha feito mil e uma papeladas para lá ir e não ia desistir até lá chegar. Têm a arte literalmente "vomitada" pela cidade inteira, vivem num sítio idílico e ainda podem dar um pulinho à cidade, curtir a vida jovem e voltar para o lugar sossegado de canais parados. Que maravilha de vida. Apesar de saber que seria uma vida cara, pegava nas malas e não pensava duas vezes. É o sonho dos estudantes, disso eu tenho a certeza. E para os festeiros, esse meu "amigo" italiano contou-me imensas histórias de fazer rir até ao fim (ou abrir a boca de espanto).

6 comentários

  1. Nada melhor do que ir, conhecer, absorver, fazer estes relatos e nós, leitores, darmos asas à imaginação e sermos o protagonista de história enquanto lemos. Obrigada Inês.

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  2. Sempre quis ir a Veneza. Estudar então, deve ser fantástico. É nestas alturas que tenho pena de não ter ido para Erasmus.

    Ricardo, The Ghostly Walker.

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  3. gostei muito do teu blog, vou seguir :)
    http://the-flyagainstthewind.blogspot.pt/

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  4. quero muito visitar veneza um dia, sem dúvida

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  5. sinceramente, amo tanto Itália sem nunca ter estado lá por encontrar coisas escritas assim...

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