LIVROS || A Rapariga No Comboio


Este é um thriller difícil. Acho que podemos começar por aqui. Existem vários tipos de terror e policiais: aqueles com imenso suspense e que provocam-nos imagens monstruosas à cabeça, aqueles sangrentos e cortantes e depois os típicos "terror dementor" que te levam numa espiral de emoção tristonha das personagens e te consomem a cada página. Este é um deles.

Quando peguei no "A Rapariga No Comboio" fiquei com dois pensamentos em marcha ao longo da leitura: que não fosse aborrecido (como muitos policiais ou thrillers acabam por cair nesse desfecho) e que prometesse a tal reviravolta imprevisível que estava escrita n vezes na contra-capa.

A história fala de Rachel, uma mulher muito infeliz devido ao seu casamento falhado que se refugiou no álcool e que apanha todos os dias o comboio para Londres, de manhã e ao final da tarde. É nele que observa as outras pessoas e as casas além da janela e projecta neles uma vida de sonho que ela não tem nem se identifica. Tem uma casa preferida que consegue observar sempre que o comboio pára e onde vive um casal que tem tudo para ser de sonho, uma mulher linda e com um sorriso simpático e um homem grande, protector e afável a quem Rachel fantasia os seus nomes como Jason e Jess. Mas certo dia Rachel observa algo que a deixa perturbada e inquieta naquela casa, de tal forma que o seu final de noite é marcado pela falha de memória provocada pelo álcool e uma manhã de questões, marcas no corpo e uma cara muito mal tratada. Rachel decide não ficar passiva no que viu e acaba por criar uma ligação irreversível com o casal que vai mudar o rumo da sua vida para sempre.

Ao longo de toda a história podemos ter acesso a três narradoras femininas e o mais perturbador e inquietante para mim foi que não podemos confiar em nenhuma das personagens. Não há uma única personagem que me tenha feito sentir uma sensação de proximidade, de esperança, de ligação. Todas têm momentos de falha terríveis que nos fazem sentir perdidos na história, confusos e sem sensação de esperança de final feliz de história. Não é um livro caloroso. É um livro intimidante e que remexe com coisas muito delicadas como o adultério, o vício do álcool, homicídios, desaparecimentos, desconfiança, mentiras, entre muitas mais coisas perturbadoras. As histórias que fazem a verdadeira história deixam-nos com pele de galinha e a pensar que as pessoas não são como julgamos que parecem na sua impressão superficial. Faz-nos pensar que tiramos conclusões muito precipitadas em relação aos outros por meros detalhes e, por isso, eu não criei conforto com este livro, que penso que era o objectivo da autora. Não te consegues ligar aos personagens e tens sempre um olho clínico e crítico em relação a cada acção deles. Mesmo da protagonista.

Não é aborrecido, há sempre algo a acontecer, um novo desenrolar e revelações. Há sempre um acontecimento diferente mas aquela reviravolta prometida comigo falhou. Porque topei desde o começo tudo e, a partir daí a história só foi ficando cada vez mais previsível e cada página era apenas a confirmação das minhas suspeitas. Fiquei desiludida porque não recebi a minha Terra Prometida, algo que até é bastante fácil. Eu raramente não sou surpreendida pelos livros e fiquei durante todo o livro com esperança de que estivesse enganada. Por isso, além da desilusão tive ainda mais tempo para me frustrar com as personagens, coisa que faz pouco parte dos meus gostos de leitura. Num livro em que não gostas de nenhuma personagem (minto! A colega de casa de Rachel é o único ser espectacular dali, Go Cathy!), é muito fácil zangares-te com as suas acções ou sentires-te mesmo indignada. Cheguei mesmo a ficar repugnada.

E acho que, nesse sentido, o livro cumpriu o que queria. Talvez vocês se surpreendam (toda a gente à minha volta se sentiu assim) e o livro fica ainda mais maravilhoso para vocês. O livro é para vos chatear mesmo. Para vos tirar cá ao de cima os vossos julgamentos, as vossas caras trancadas a ler, as vossas caras de reprovação. É para vos revirar as entranhas. E para vos fazer surpreender. Não é um romance. Não tem coisas fofinhas. Não tem esperança, não tem momentos queridos e especiais. É thriller puro. Mas não repito a leitura.

Podem ler os primeiros capítulos aqui.

Autora: Paula Hawkins
Número de Páginas: 318
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6 comentários

  1. Já estive com ele na mão no Supermercado e adorei a capa! Talvez o compre!

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  2. Não é para mim neste momento e não sei se alguma vez estarei pronta para ler algo do género.

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  3. Pelo pequeno resumo que deste, despertaste-me a curiosidade :)

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  4. Como já tinha dito antes, fiquei curiosa em ler o livro por causa da sinopse. Pelo que li neste post, é exactamente aquilo que tinhas dito, e talvez seja em relação a isso que dizem ser um livro "perturbador e arrepiante". Não costumo gostar de livros assim, como o descreveste, mas mesmo assim acho que lhe vou dar uma oportunidade, pôr o meu sentido crítico à prova e tentar mergulhar na história

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  5. Comprei-o hoje e vou começar a ler agora. Vim antes ler o teu post e acho que não me arrependi de ter escolhido primeiro ler o que escreveste sobre ele!

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