PASSAPORTE || A minha alma é do mundo


Poucas coisas me aliciam mais do que viajar. A culpa é dos meus pais e não das estrelas. Desde cedo meteram este bichinho em mim e orgulho-me de dizer que fui muito bem educada na arte de viajar e saber viajar. Saber o que visitar e saber apreciar. É tão bom poder reconhecer isso em mim mesma que, cada vez que viajo, um formigueiro dentro de mim evolui, pronto para ir para as nuvens. É uma experiência que me enriquece e que é difícil de descrever.

Desde menina aprendi a fazer a minha própria mala e a pôr o essencial. A deixar-me de princesices e ser organizada. Desde miúda que os meus pais não me excluem das viagens, primeiro, porque nunca fiz birra de que não queria andar mais, segundo, porque onde quer que eles me levassem era o maior prémio de sempre, na minha lógica.

Eu gosto da azáfama das malas e de fazer um briefing da viagem. O que quero ver, o que não posso mesmo perder, como vai estar o tempo, como chego a determinado lugar e as oportunidades que posso encontrar pelo caminho. Desde miúda que não tenho medo da mochila às costas, nem das descolagens, nem das aterragens, desde catraia que aprendi logo o truque para não me doerem os ouvidos nas subidas de altitude e que sei quando o avião estabilizou antes sequer da luzinha dos cintos desligar. Desde cedo que o meu pai e padrinho sempre me proibiram de tirar o cinto porque os "imprevistos não vêm com luzes atrás e quando elas se acenderem já bateste com a testa no lugar da frente". Desde cedo ando de mala às costas e vejo tudo, absorvo tudo.

Gosto dos museus, gosto de perder tempo lá. Gosto de me sentar e apreciar o espaço em volta. Gosto ainda mais quando a minha companhia sabe algo que não sei e partilha-a comigo. É como construir um castelo de areia que fica para sempre na nossa memória: toda a ajuda é preciosa.

Gosto de virar as esquinas das ruas sem estar familiarizada com elas e em que tudo é uma caixinha de Pandora. Descobrir cantinhos que, se não me tivesse enganado, não os encontrava. Desde que tenho franja que aprendi que o mapa dobra-se sempre com as ruas para fora e metes no bolso de trás sempre actualizado com o sítio onde estás para, quando precisares, não teres de desdobrá-lo todo e perder minutos preciosos à tua própria procura. Que guardo um cartão com a morada completa do hotel para, se me perder completamente, conseguir indicar a um táxi ou polícia para onde quero ir, seja em que língua for. Que me sento nos cafés e paro o tempo para apreciar os minutos passarem numa parte do planeta onde, tão cedo, não vou lá voltar.

Que perco tempo a conhecer as pessoas quando, na verdade, estou a ganhá-lo. Que me estimulo a passear, a andar o máximo a pé, a escolher postais à medida que vou passeando e parar num café para lanchar e escrever com calma tudo o que quero.

Há algo de apaixonante em meter os pés noutro lugar. Em saber os truques de um verdadeiro viajante. E eu sempre fui grata pela sorte que tenho em, pelo menos uma vez por ano no mínimo, ficar frente a frente com um avião. Eu sei que é um luxo que não é para todos. Viajar é um luxo, o maior talvez. E eu agradeço todos os dias por o ter.

Planear Paris faz-me pensar nestas coisas!

4 comentários

  1. Nem sabes o quanto adorava planear uma viagem, não o consigo fazer com os meus pais, os nossos interesses são muito distantes e é difícil conciliá-los, e eles costumam ganhar nesta luta entre Gregos e Troianos. Eu quero viajar mas sem eles, quero visitar aquilo que me apetece e não vou deixar nem uma coisa numa cidade por ver, se estou lá é para ver tudo e ponto final. Quem me dera saber tanto de viagem como tu, ainda preciso de uma mão para apertar quando o avião descola!

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  2. Eu nunca fiz uma viagem com os meus pais e o meu sonho é poder levá-los a conhecer o mundo juntamente comigo :) Também nunca andei de avião...

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  3. Infelizmente cá em casa o meu pai censura-me um pouco por eu ter esta vontade enorme de viajar e de conhecer o mundo mas que se lixe, é aquilo que me faz mais feliz!! Adorei ler este texto porque é tudo o que sinto *.*

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